Journal of Specialized Nursing Care

management of HYPOGLYCEMIA IN INTENSIVE CARE: Sistematic Literature Review

GERENCIAMENTO DA HIPOGLICEMIA EM CUIDADOS INTENSIVOS: REVISÃO SISTEMATIZADA DA LITERATURA

 

Patrícia Brouck Duarte Sanches. Enfermeira. Aluna do Curso de Especialização em Enfermagem em Cuidados Intensivos da Universidade Federal Fluminense (UFF). patriciabrouck@gmail.com.
Isabel Cruz Fonseca da Cruz. Doutora em enfermagem. Professora Titular da UFF. isabelcruz@uol.com.br.

 

Abstract: Most cases of hypoglycemia in intensive care environments affects patients with diabetes. The diabetic patients are frequently hypoglycemic episodes during insulin therapy, which hinder the achievement of optimal glycemic control. Thus, the critical care nurse is responsible for maintaining tight glycemic control, achieving levels that would ensure the therapeutic benefit and with a low incidence of hypoglycemia. Given the above, this research seeks to answer the clinical question flaming: On account of high complexity, which is the effective management of hypoglycemia in the treatment of diabetes mellitus? This study was conducted through computerized literature search in electronic databases in virtual environment, case of a systematic literature review. Were selected as data source 10 articles in journals of national and international nurses that met the inclusion criteria of this study. According to the results and summary of the principal evidence, are exposed implications for nurses, as well as for nursing staff which serves the critical patient. To maintain a safe and effective glycemic control, the nurse should implement nursing care based on evidence from monitoring of blood glucose as a priority for diabetic care, especially the one in use of IV insulin infusion. One should keep the nursing staff well trained on the least signs of hypoglycemia.

Key-words: Nursing care. Hypoglycemia. Diabetes Mellitus. Glycemic/control.

Resumo: A maioria dos casos de hipoglicemia em ambientes de cuidados intensivos ocorre em pacientes com diabetes. Os portadores de Diabetes Mellitus têm, com frequência, episódios de hipoglicemia durante a insulinoterapia, que, impedem a obtenção do controle glicêmico ideal. Desta forma, a enfermeira de cuidados intensivos é responsável pela manutenção do controle glicêmico rígido, obtenção de níveis que possam assegurar o benefício terapêutico e com um baixo índice de hipoglicemia. Diante do exposto, esta pesquisa busca responder a seguinte questão clínica flamejante: No cliente de alta complexidade, qual é a eficácia do gerenciamento da hipoglicemia para o tratamento do diabetes mellitus? Este estudo foi realizado por meio de pesquisa bibliográfica computadorizada em ambiente virtual, tratando-se de uma revisão sistematizada da literatura. Foram selecionados como fonte de dados 10 artigos de periódicos de enfermagem nacionais e internacionais, que atendessem os critérios de inclusão deste estudo. De acordo com os resultados obtidos e a síntese das principais evidências encontradas, são expostas implicações para enfermeiros intensivistas assim como, para equipe de enfermagem que atua ao paciente crítico. Para manter um controle glicêmico seguro e eficaz, o enfermeiro deve implementar os cuidados de enfermagem baseados em evidências a partir da monitorização da glicose sanguínea como uma prioridade de assistência ao diabético, principalmente aquele em uso de infusão de insulina IV. Devendo-se manter a equipe de enfermagem bem treinada quanto aos mínimos sinais de hipoglicemia.

Palavras-chave: Cuidados de enfermagem. Hipoglicemia. Diabetes mellitus. Glicemia/controle.

 

INTRODUÇÃO

A maioria dos casos de hipoglicemia em ambientes de cuidados intensivos ocorre em pacientes com diabetes1. Esse grupo de doenças metabólicas caracteriza-se por hiperglicemia e estão associadas a complicações, disfunções e insuficiência de vários órgãos, especialmente olhos, rins, nervos, cérebro, coração e vasos sanguíneos. Pode resultar de defeitos de secreção e/ou ação da insulina envolvendo processos patogênicos específicos, como, destruição das células beta do pâncreas, resistência à ação da insulina, distúrbios da secreção da insulina, entre outros2.

 Além do diabetes, as alterações metabólicas e hormonais associadas ao estresse da doença3, a internação em unidade de terapia intensiva (UTI) e as diversas intervenções clínicas no paciente criticamente enfermo predispõem a hiperglicemia e assim, um maior risco de hipoglicemia, visto a necessidade da utilização de insulina.

A hipoglicemia é decorrente do bloqueio da glicogenólise e gliconeogênese e da melhor utilização da glicose periférica proporcionados pela terapêutica instituída e poliúria4. É definida como nível de glicose sanguínea de 70 mg/dL ou menos, podendo desenvolver-se rapidamente e incluem sintomas como tontura, tremores, fome, sudorese, palidez, alterações de comportamento e confusão. No paciente crítico e em uso de prótese ventilatória tais sintomas são mais difíceis de reconhecer. Caso não for tratado rapidamente poderá levar a graves sequelas neurológicas incluindo confusão, agitação, coma e morte5.

Os portadores de Diabetes Mellitus têm, com frequência, episódios de hipoglicemia durante a insulinoterapia, que, impedem a obtenção do controle glicêmico ideal. A enfermeira deve manter uma monitorização rigorosa da glicemia especialmente durante a administração de infusão contínua de insulina IV, porque há a necessidade do ajuste da insulina de acordo com a glicose sanguínea e também põe em risco a segurança do paciente podendo causar uma das principais complicações, a hipoglicemia.

Com isso, busca-se identificar na produção científica de enfermagem, através da utilização da estratégia PICO, a melhor evidência disponível para o cuidado do paciente de alta complexidade portador de diabetes mellitus em risco para hipoglicemia.

Neste sentido, uma equipe de enfermagem capacitada e comprometida com o bem estar do paciente, fornecendo um ambiente terapêutico, cuidados humanizados e a utilização da melhor evidência disponível para tomada de decisões sobre o paciente6, produzindo assistência de qualidade, alcançam a minimização dos riscos e maior sobrevida dos pacientes.

Questão clínica flamejante

Diante do exposto, esta pesquisa busca responder a seguinte questão clínica flamejante: No cliente de alta complexidade, qual é a eficácia do gerenciamento da hipoglicemia para o tratamento do diabetes mellitus?

A estratégia PICO foi empregada para questão de pesquisa e para construção da pergunta e, assim, auxiliando na busca bibliográfica. O quadro 1 representa a descrição dos componentes da estratégia PICO. 

       Quadro 1 - Estratégia PÌCO

 ACRONIMO

          DEFINIÇÃO

        DESCRIÇÃO

           P

Paciente ou diagnóstico de enfermagem

 

Paciente adulto internado em UTI

com Diabetes Mellitus

           I

Prescrição

 

Gerenciamento da hipoglicemia

          C

Controle ou comparação

            

                 NH*

          O

Resultado               

 

Perfil glicêmico mantido dentro dos

níveis normais

         NH* - Não há  

Resposta Baseada em Evidência Científica

O controle glicêmico deve ser feito, evitando os efeitos deletérios permissivos e prejudiciais da hiperglicemia no paciente diabético de alta complexidade, sendo imprescindível definir a estratégia mais segura de oferecer este cuidado aos pacientes, capaz de proteger sua saúde, sem adicionar um risco potencial9da hipoglicemia.

A insulinoterapia intensiva na manutenção dos níveis glicêmicos próximos ao normal é eficaz na redução do desenvolvimento e progressão das complicações do diabetes mellitus11. No entanto, os benefícios do controle glicêmico rígido devem ser avaliados contra o risco de eventos hipoglicêmicos5. Desta forma, os enfermeiros são essenciais para a implementação bem sucedida de protocolos, monitorização da glicemia mais intensiva e programas educacionais no controle glicêmico5.                                   

METODOLOGIA

Este estudo foi realizado por meio de pesquisa bibliográfica computadorizada, que consiste principalmente no levantamento e na análise crítica baseada em evidências de pesquisa nos periódicos de enfermagem nacionais e internacionais, no período de Setembro a Dezembro de 2010. Esta investigação foi desenvolvida ao longo de etapas que inclui a escolha do tema, o levantamento bibliográfico preliminar, identificação, localização e obtenção das fontes, leitura do material, fichamento, análise, interpretação e redação do texto. Foram utilizadas as seguintes bases de dados: Scientific Electronic Library Online (SciELO), MEDLINE / PubMed via PICO, Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Base de Dados de Enfermagem (BDENF).

 Foram utilizados os seguintes critérios de inclusão: artigos científicos publicados no período de 2006 a 2010, redigidos nos idiomas português ou inglês em periódicos de enfermagem, serem realizados por enfermeiros e tratarem-se, como foco principal de clientes adultos (idade acima de 18 anos) diabéticos com risco de hipoglicemia em unidade de alta complexidade ou artigos que abordassem informações relevantes ao estudo.   

Os termos empregados para a busca (descritores/Keywords) foram: hipoglicemia/ hypoglycemia, diabetes mellitus/ diabetes mellitus, controle da glicemia/ glycemic control e cuidados de enfermagem/ Nursing care. Para delimitar os tipos de diabetes foram usados os operadores booleanos (and, or e not): diabetes mellitus tipo I AND diabetes mellitus tipo II, diabetes mellitus tipo I OR diabetes mellitus tipo II NOT diabetes insípidus

Para busca bibliográfica das evidências foi utilizada uma combinação dos componentes da estratégia PICO: (P) Paciente com Diabetes Mellitus AND (I) Gerenciamento da hipoglicemia AND (C) Não há AND (O) Perfil glicêmico normal.  

Síntese das evidências científicas

foram selecionados como fonte de dados 10 artigos de periódicos de enfermagem, conforme os critérios de inclusão deste estudo, sendo 04 nacionais e 06 internacionais. O quadro 2 apresenta as principais evidências encontradas.

 

       quadro 2 – Publicações localizadas nas bases de dados, Rio de Janeiro, 2010.

Autor(es), Data

& País

Objetivo da pesquisa

Força da evidência

Tipo do estudo

 

Principais achados

Conclusões do (s) autor (es)

Janice E, Kim H; 2006; EUA15

Desenvolver e implementar um protocolo de controle de glicose

A1

Revisão sistematizada de literatura

A implementação do protocolo permite rápida redução dos níveis de glicose no sangue e baixa incidência de hipoglicemia.  Houve um aumento do número de pacientes incluídos no protocolo

Os enfermeiros aderiram o protocolo de maneira positiva tornando a ser parte integrante da assistência ao paciente. Continua a ser amplamente utilizado após o estudo

Grossi SAA; 2006; Brasil4

Fornecer subsídios para a prática clínica de enfermagem no manejo da cetoacidose diabética

B1

Revisão sistematizada de literatura

Apresenta a avaliação dos sinais e sintomas de cetoacidose diabética pelo enfermeiro, as atuações de enfermagem e as principais intervenções terapêuticas 

O enfermeiro deve atuar junto ao paciente crítico e seus familiares com o objetivo de educar para a prevenção da recorrência da cetoacidose

Pereira MMQ, Lopes MVO; 2006; Brasil7

Analisar o processo de restauração em pacientes diabéticos portadores de hipertensão arterial

B3

Transversal

O processo de restauração em diabéticos é fortemente comprometido e que apresenta múltiplos fenômenos com alta proporção de ocorrência

O enfermeiro deve realizar um controle mais adequado dos níveis glicêmicos

Grossi SAA, Cianciarullo TI,

Thaís Della Manna TD; 2006; Brasil12

Identificar a frequência e magnitude nos ajustes das doses de insulina a partir de dois esquemas de monitorização

sanguíneo e urinário em pacientes com diabetes mellitus do tipo1 e avaliar a efetividade dos ajustes no controle metabólico.

B3

NH

O monitorização glicêmica sanguínea

manteve-se em melhor controle metabólico do que os que realizaram monitorização urinária,

confirmando a maior

sensibilidade dos testes sanguíneos em detectar as

flutuações nos níveis de glicose

 

A monitorização da glicemia possibilitou maior número de ajustes e aplicações na terapêutica insulínica, como um melhor controle metabólico.

Oeyen SG, Hoste EA, Roosens CD, Decruyenaere JM, Blot SI; 2007; EUA3

Avaliar a adesão,  eficácia e segurança de um protocolo de insulina IV em pacientes críticos. Determinar os fatores associados ao adequado controle glicêmico  

B3

Prospectivo observacional

A adesão ao protocolo de insulina foi positivamente associada com o adequado controle diário da glicemia. Houve pelo menos um episódio de hipoglicemia em 60% dos pacientes

A aderência pelos enfermeiros e o controle da glicose sanguínea permaneceram adequados.

Lenard MH, Hammerschmid KSA, Borghi CS,

Vaccari E, Seima MD; 2008; Brasil13

Descrever ações alicerçadas nos hábitos de cuidado do idoso renal crônico portador de nefropatia

diabética, em tratamento hemodialítico

B3

Convergente assistencial

A situação crônica de saúde provoca inúmeras restrições e alterações no padrão de vida

Revela a necessidade de nova abordagem no cuidado de enfermagem e por parte dos familiares ao idoso renal crônico, no sentido de manter os níveis glicêmicos adequados

 Maureen A; 2008; EUA1

Monitorar a hipoglicemia em adulto hospitalizado em cuidados críticos com Diabetes

B1

Revisão sistematizada de literatura

Apresenta os efeitos da hiperglicemia na evolução do paciente crítico

A obtenção da glicemia em níveis normais pode melhorar os resultados do paciente, porém é um procedimento demorado e um desafio para enfermeiros

Goldstein PC; 2009; EUA14

Avaliar e tratar a hipoglicemia em idosos com Diabetes

B1

Revisão sistematizada de literatura

Expõe os sinais e sintomas da hipoglicemia em pacientes idosos em cuidados críticos

Apresentam maiores taxas de hipoglicemia em pacientes idosos diabéticos em uso de medicamentos hipoglicemiantes e mostra o benefício do controle glicêmico rigoroso

Sauer P, Horn ERV; 2009; EUA5

Avaliar o impacto de protocolos de insulina IV, segurança do paciente com doença crítica e carga de trabalho dos enfermeiros

B1

Revisão sistematizada de literatura

O uso de insulinoterapia IV apresenta resultados benéficos embora comporte riscos potenciais para a segurança do paciente como a hipoglicemia e aumenta a carga de trabalho de enfermagem

Os enfermeiros são essenciais para implementação bem sucedida dos protocolos e o controle glicêmico estrito é benéfico e seguro para a maioria dos pacientes

Corbin AE, Carmical D, Goetz JA, Gadomski VO, Knochelmann C, Whitmer K et al; 2010; EUA8

Determinar protocolos de controle glicêmico e a necessidade de intervenção no gerenciamento da hiperglicemia em pacientes de alta complexidade

 B5         

Relato de experiência

Os enfermeiros que integram na formação, construção e implementação dos protocolos de insulina IV são primordiais para o seu sucesso

Os enfermeiros são fundamentais para o sucesso do programa Diabetes Agora e houve uma melhora no controle da glicemia após a inserção dos protocolos de insulina IV

         NH* - Não há 

Discussão

De acordo com os resultados obtidos e a síntese das principais evidências encontradas para o gerenciamento da hipoglicemia em pacientes de alta complexidade portadores de diabetes mellitus, são expostas implicações para enfermeiros intensivistas assim como, para equipe de enfermagem que atua ao paciente crítico.

A prevalência de diabetes no meio de cuidados intensivos é elevada1. Mesmo os pacientes que não são diabéticos estão propensos à hiperglicemia devido às alterações metabólicas e hormonais associadas à resposta do estresse, as diversas intervenções clínicas como o uso de corticosteróides, vasopressores e nutrição parenteral ou enteral 3. Com isso, o perfil glicêmico aumentado influencia em sua evolução e é um marcador de mau prognóstico para pacientes graves, tanto clínicos quanto cirúrgicos9.

Em pacientes críticos, os níveis de glicose sanguínea devem ser mantidos em intervalos que sejam eficientes e seguros, na faixa entre 80 e 110 mg/dl5,8. Em um estudo, demostraram que a obtenção normoglicêmica em clientes de alta complexidade pode melhorar os resultados clínicos do paciente1

Observa-se em diversas pesquisas que, embora houvesse técnicas mais aprimoradas de monitorização da glicemia, o surgimento de novas drogas para o controle do diabetes e maior conhecimento da fisiopatologia da doença, o controle metabólico ainda permanece insatisfatório na maioria da população diabética9. Dessa maneira, resultando em um aumento de intervenções clínicas, na necessidade de um controle glicêmico rigoroso e no risco elevado de um evento potencialmente grave para esta população, a hipoglicemia.

A hipoglicemia define-se como a glicose sanguínea menor ou igual a 70 mg/dl, e deflagra uma série de mecanismos contra-reguladores: suprime a secreção de insulina pelas células-beta, estimula a liberação de glucagon pelas células- alfa, a de adrenalina pela medula adrenal, além do cortisol e do hormônio de crescimento. Além disso, observam-se também a liberação de noradrenalina de neurônios simpáticos pós-ganglionares e acetilcolina dos pós-ganglionares simpáticos e parassimpáticos, além de outros neuropeptídeos10. Entretanto, a resposta esperada de aumento na secreção de glucagon na vigência de hipoglicemia, deixa de existir precocemente no curso da doença em portadores de DM110.

A hipoglicemia é classificada em: grave (severe hypoglycemia): requer assistência de outra pessoa para administração de carboidrato, glucagon, glicose oral ou endovenosa. Implica neuroglicopenia suficiente para induzir convulsão, alteração de comportamento ou coma. A medida da glicemia não é obrigatória no momento da hipoglicemia para classificá-la retrospectivamente como tal. A recuperação neurológica é considerada evidência suficiente; hipoglicemia sintomática documentada: evento com sintomas e glicemia menor que 70 mg/dL; hipoglicemia assintomática (sem alarme): evento sem sintomas típicos de hipoglicemia, mas com a medida inferior a 70 mg/dL;  hipoglicemia sintomática provável: evento no qual os sintomas não são confirmados por medida de glicemia. Esses são eventos dificilmente quantificáveis em estudos clínicos; hipoglicemia relativa: evento no qual a pessoa portadora de diabetes atribuídos à hipoglicemia, mas com medida superior a 70 mg/dL. Isto ocorre quando o controle glicêmico é inadequado10.

Em relação aos tipos de diabetes, pensa-se que pacientes com diabetes tipo 1 tem maior risco de complicações como a hipoglicemia do que aqueles com diabetes tipo 2, embora quando combinados a duração da doença e uso de insulina, as taxas de hipoglicemia são similares entre os dois grupos1.

O paciente diabético de alta complexidade requer a utilização de insulina, todavia além de controlar a hiperglicemia coloca a segurança do paciente em risco para a hipoglicemia. O uso de protocolos de insulinoterapia IV em terapia intensiva deve ser prescrito por médicos e é indicado para manter os níveis de glicose adequados. Os protocolos preveem padronização de cuidados em todo o hospital e podem aumentar a eficácia e a segurança de uma determinada prática8.

 A insulina IV tem um rápido início de ação e pode causar hipoglicemia severa, que, se não for tratada, pode resultar no comprometimento neurológico ou morte. A infusão de insulina é ajustada com base em testes da glicemia sanguínea feito na beira do leito, o que facilita ajustes imediatos da infusão de insulina, mas requer tempo e atenção da enfermeira. A prática do controle glicêmico rígido é adotada em muitos contextos clínicos, e, embora resultados benéficos do paciente tenham sido claramente documentados, a terapia comporta riscos potenciais para a segurança do paciente relacionados à hipoglicemia5.

As hipoglicemias iatrogênicas acometem até 90% das pessoas tratadas com insulina, sendo um fator limitante para a adequação da terapêutica, pode-se dizer que são uma barreira bastante difícil de transpor para a obtenção de controle glicêmico adequado10.

Na maior parte das pesquisas que se fundamentam este estudo, os enfermeiros da UTI são responsáveis pelo gerenciamento da taxa de infusão de insulina IV e pela frequência das medições de glicose sanguínea. Foi observado o receio de provocar a hipoglicemia e não aumentar as taxas de insulina o suficiente para manter a glicemia em níveis adequados.    

A ocorrência deste evento é um preditor independente de mortalidade quando os pacientes recebem terapia insulínica intensiva. Entretanto, dois estudos foram interrompidos devido a uma alta incidência de hipoglicemia e nenhum benefício na mortalidade em grupos de insulinoterapia intensiva. Foram utilizados intervalos mais apertados de controle da glicose sanguínea para minimizar o risco de hipoglicemia, mas não impediram a hiperglicemia3.  

Além da infusão contínua de insulina IV, interrupções na alimentação enteral e transporte de pacientes são razões para a precipitação de hipoglicemia5.

A ocorrência da hipoglicemia é uma situação de urgência8 detectada pela equipe de enfermagem, Recent research demonstrated that achieving normo-glycemia in hospitalized patients may improve patient outcomes (Van den Berghe et al., 2001).o tratamento deve ser imediato fornecido com uma fonte concentrada de glicose ou carboidratos de ação rápida e verificado a glicemia capilar após 15 minutos5. Após um coma hipoglicêmico a recuperação da função cerebral, em geral, é completa10.

A reversão de quadros de hipoglicemia sem sinal de alerta é difícil, devendo-se evitar meticulosamente sua ocorrência, adequando o tratamento, os alvos glicêmicos e utilizando a monitoração10 rigorosa da glicose.

A enfermeira de cuidados intensivos é responsável pela manutenção do controle glicêmico rígido, obtenção de níveis que possam assegurar o benefício terapêutico e com um baixo índice9 de hipoglicemia. Entretanto foi relatado um aumento da carga de trabalho após a implementação dos protocolos, pela frequência de mensurações da glicemia capilar, sendo o número mínimo de testes num período de 24horas de 6 (a cada 4 horas) e o máximo de 48 testes (a cada 30 minutos), e também um número inadequado de glicosímetros disponíveis para atender os pacientes em insulinoterapia5.

 

Sugestões para a prática da enfermeira

 

O cuidado crítico sagaz da enfermeira é essencial para o sucesso de conseguir o controle mais apertado da glicose, devendo-se antecipar e reconhecer as complicações. É extremamente importante fazer todo o possível para minimizar o risco de hipoglicemia, especialmente em pacientes de alto risco em cuidados intensivos. A enfermeira sendo responsável por planejar, executar, delegar, supervisionar e avaliar a assistência de enfermagem também participa da educação de toda equipe de enfermagem, com treinamento adequado e aprimoramento da técnica de punção sanguínea para realização do hemoglucoteste, orientação da necessidade de manter rigoroso horário para o teste e nas medidas de controle, prevenção e identificação dos pacientes em risco. Sempre em busca de uma assistência mais humanizada e adequada aos pacientes diabéticos em cuidados críticos.

Em relação à insulinoterapia, não há alguma recomendação de protocolo específico tanto para infusão de insulina ou injeção intermitente. No entanto, algumas considerações devem ser vistas para a escolha de um protocolo. Embora tenha havido ensaio clínico controlado não randomizado de comparação para protocolos de infusão de insulina, muitos protocolos são publicados na literatura. A escolha deve se basear na que se encaixe em cada hospital em específico, levando em consideração o recurso pessoal e a capacidade de monitorar os pacientes de perto. Para todos os protocolos, freqüentes testes da glicose de cabeceira são necessários, mas a frequência ideal não é conhecida16.

A prestação de cuidados holísticos pela enfermeira à pacientes com diabetes não deve apenas estabilizar o paciente clinicamente, mas também satisfazer as suas necessidades psicossociais e de apoio à sua família.  

Alem disso, a troca de informações e a cooperação entre médicos e enfermeiros na UTI são essenciais para a prática bem sucedida da insulinoterapia. Em um estudo, a implementação de um protocolo de controle glicêmico, que incluía um algoritmo de tratamento com insulina com gestão pela enfermeira e várias outras medidas de apoio, melhorou o controle glicêmico em UTI e levou a normoglicemia em elevada percentagem do tempo. Foi evidenciado que, a terapia insulínica intensiva dada de acordo com um algoritmo e gerenciadas por enfermeiros leva a melhores resultados do que a terapia com insulina administrada por médicos17. 

Conclusões

O enfermeiro deve manter a equipe de enfermagem bem treinada quanto aos mínimos sinais de hipoglicemia e atuar junto ao paciente de alta complexidade com o objetivo de prevenir a recorrência de hipoglicemia. Para manter um controle glicêmico seguro e eficaz, o enfermeiro deve implementar os cuidados de enfermagem baseados em evidências a partir da monitorização da glicose sanguínea como uma prioridade de assistência ao diabético, principalmente aquele em uso de infusão de insulina IV.

No paciente diabético em cuidados intensivos, o uso de protocolos de controle glicêmico devem levar a diminuição dos níveis de glicose sanguínea com o mínimo de reações adversas em médios e longos períodos de normoglicemia. Entretanto, o controle rigoroso da glicemia é um desafio, pois o número de eventos hipoglicêmicos se mostraram similares em muitos estudos antes e depois da implementação do protocolo. Desta forma, deve ser prático o suficiente para serem aplicados clinicamente.  

a adesão ao protocolo de insulinoterapia IV em pacientes diabéticos de alta complexidade alcançou um controle glicêmico adequado, entretanto devem ser realizados mais treinamentos com enfermeiros a respeito dos ajustes insulinoterápicos, o manejo da hipoglicemia e o controle metabólico da glicose ideal. Visto a necessidade de padronização das condutas de enfermagem como o preparo e administração da solução de insulina de uso contínuo, velocidade correta da bomba de infusão, horários das glicemias capilares, suplementação em bolus, rodízio de punção digital, controle da glicemia capilar e vigilância do paciente, no que se refere a sinais e sintomas de possivelmente associados ao tratamento proposto. A cooperação entre a equipe de enfermagem e a troca de informações entre enfermeiros e médicos são primordiais para a implementação bem sucedida da infusão contínua de insulina IV.

A resistência de enfermagem quanto à aderência dos protocolos e o receio de causar hipoglicemia ocorreram, todavia foi atenuado pela educação da equipe objetivando os benefícios para o paciente em cuidados críticos.    

A necessidade de mais pesquisas nacionais que abordem o cliente diabético de alta complexidade durante o controle glicêmico rígido e a hipoglicemia é imprescindível para segurança do paciente.

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