Nursing evidence-based practice guidelines for adverse drug interaction in ICU - Systematic Literature Review

Prática de enfermagem baseada em evidência sobre Risco de Interação Medicamentosa Adversa em UTI – Revisão Sistematizada da Literatura

 

Cassia Amorim Rodrigues Araújo. Enfermeira. Aluna do Curso de Especialização em Enfermagem em Cuidados Intensivos / Universidade Federal Fluminense(UFF). cahh.amorim@gmail.com.br

Profa. Dra. Isabel Cruz. Titular da UFF. isabelcruz@id.uff.br

 

ABSTRACT

Abstract: This study analyzed the risks of adverse drug interactions based on updated scientific evidence, through the intensive care team, within a maximum of 7 days of hospitalization. Methods: This is a systematic review of the literature through the search for online data from 2012 to 2019. Through evidence-based practices on adverse drug interactions in intensive care units, using a PICOT strategy. Results: 10 publications were analyzed using the thematic analysis technique, in which 2 categories emerged: Risk of drug interactions associated with the number of drugs prescribed, highlighting the high number of medications administered simultaneously and the importance of the multidisciplinary team for patient safety linked to the need for professional updating and effective communication between the group. Conclusion: The identification of a significant number of drug interactions stands out in the highly complex patient, and this number increases when it comes to the adult / elderly person due to the number of drugs already pre-existing in their therapy. Current evidence addresses that communication between the multidisciplinary team, coupled with the installation of protocols, flowcharts and rescheduling of medications can be a facilitating component for patient safety, preventing adverse events. Recommendations: The constant monitoring of the team is still the most important factor for the multidisciplinary team and especially for the intensive care nurse, since all professionals are protective barriers for the patient and the intensive care nurse allied to their nursing team are blocks in the last medication administration process and collaborate in the safety process.

Keywords: Drug interactions; Intensive Care Units; Patient safety; Nursing care.

 

RESUMO

Resumo: A finalidade deste estudo foi analisar os riscos das interações medicamentosas adversas com base nas evidências científicas atualizadas, através da equipe de enfermagem intensivista, no máximo em 7 dias de internação. Métodos: Trata-se de uma revisão sistemática de literatura através da busca de dados online nos anos de 2012 a 2019. Através das práticas baseadas em evidências sobre interações medicamentosas adversas nas unidades de terapia intensiva, utilizando a estratégia PICOT. Resultados: Evidenciaram-se 10 publicações analisadas pela técnica de análise temática, onde emergiram 2 categorias: Risco de interações medicamentosas associadas ao número de medicamentos prescritos destacando-se o número elevado de medicações administradas simultaneamente e a importância da equipe multidisciplinar para a segurança do paciente atrelada a necessidade de atualização profissional e comunicação efetiva entre o grupo. Conclusão: Destaca-se no paciente de alta complexidade a identificação de significativo número de interações medicamentosas, e este número se eleva quando se trata do adulto/idoso pelo quantitativo de remédios já pré-existentes em sua terapêutica. As atuais evidências abordam que a comunicação entre a equipe multidisciplinar, aliada a instalação de protocolos, fluxogramas e reaprazamento de medicações podem ser um componente facilitador para a segurança do paciente evitando eventos adversos. Recomendações: A monitorização constante da equipe ainda assim, é o fator mais importante para equipe multidisciplinar e principalmente para o enfermeiro intensivista, visto que todos os profissionais são barreiras de proteção para o paciente e o enfermeiro intensivista aliado à sua equipe de enfermagem são bloqueios no último processo de administração de medicação e colaboram no processo de segurança.

Palavras-chave: Interações medicamentosas; Unidades de Terapia Intensiva; Segurança do paciente; Cuidados de Enfermagem

 

 

Introdução

O erro é inato ao ser humano, é caracterizado como uma ação mal planejada. O manuseio de um fármaco na UTI requer profissionais qualificados para tal rotina, além disso o paciente que está neste setor é considerável instável, acarretando situações de risco ao paciente e maior vulnerabilidade. Os riscos que induzem ao erro podem estar na prescrição, no nome ilegível, composição da droga, dosagem, via de administração, data e período¹.

Os principais perigos que podem ocorrer para o risco de interação medicamentosa adversa indesejada também são facilitadores: idade, patologia, e polifarmácia, sendo capaz de inibir ou induzir os efeitos da dose terapêutica2.

Destacando-se também o risco de interação fármaco-fármaco através do aumento do número de medicamentos prescritos, onde a frequência pode ser superior a 80% que apresentem polifarmácia. Por isto, é de suma importância a equipe multidisciplinar e o enfermeiro intensivista para utilizar a terapêutica mais adequada para que não ocorra interações medicamentosas2.

As interações medicamentosas (IM) são descritas pela alteração quando uma determinada medicação interage com outra. Esta interação pode ser sinérgica, ou seja, aumentando seu efeito farmacológico ou antagônica. A administração concomitante pode reduzir a eficácia de determinados medicamentos. Além disso, a ocorrência de interação medicamentosa pode prejudicar na absorção e metabolização do medicamento2.

Como estratégia para diminuição de IM, em 2017 foi divulgado o 3º Desafio Global de Segurança do Paciente com a temática “Medicação sem danos.” A proposta deste desafio é reduzir em até 50% dos danos graves e evitáveis referentes a medicamentos, durante os próximos 5 anos, fazendo uso de sistemas de saúde mais seguros e eficazes nas etapas do processo de medicação3.

A gestão de medicamentos exerce função fundamental para o paciente gravemente doente, quando age acerca da terapia medicamentosa intensivista, o torna-se redobrado através da seleção: medicamentos, dosagem, administração e estratégias para otimizar a farmacoterapia satisfatória. Da mesma natureza quando o paciente recebe uma droga apropriada, doses baixas do ideal ou altas doses podem provocar diminuição da cura terapêutica e toxicidade respectivamente. A equipe multidisciplinar liderada pelos intensivistas devem ser responsáveis pela segurança do paciente neste cenário4.

Os sistemas de suporte através da decisão clínica mostraram-se promissores na redução dos erros de medicação. Os erros poderiam ser evitados se houvesse alertas e sugestões da equipe, os indivíduos mais susceptíveis às interações adversas são os pacientes internados em terapia intensiva (UTI) que correspondem ao público que possui maior permanência hospitalar5.

O risco de interações medicamentosas pode ser físico ou químico, o resultado habitualmente não é o mais adequado para o paciente, por exemplo, em alterações físicas há risco de formação de precipitados que levem à oclusão e embolia do cateter, tromboflebite até mesmo a falência múltipla dos órgãos. A infusão de diversos fármacos em mesmo sítio de inserção também é contribuinte para esta problemática, visto que há incompatibilidade de diversos medicamentos6.

Sendo assim, este estudo possui a finalidade de analisar a ocorrência de potenciais Riscos de Interações Medicamentosas em pacientes internados em unidades de UTI, com objetivo de contribuir com o conhecimento científico sobre o assunto e garantindo um tratamento efetivo.

Situação– problema: Escassez de informação sobre a prática com base evidências científicas e suas diretrizes para a resolução do diagnóstico de enfermagem sobre “risco de interação medicamentosa adversa” para o(a) paciente de alta complexidade sob cuidados intensivos em, no máximo, 7 dias de internação.

Objetivo: Com foco no prontuário eletrônico do(a) paciente e sua interoperabilidade por meio da SNOMED CT, revisar as diretrizes de enfermagem com base em evidência que ajudarão à(ao) enfermeira(o) intensivista na identificação e tratamento do Risco de Interação Medicamentosa Adversa, no tempo de 7 dias.

Questão prática: Como é possível avaliar os sinais de “risco de interação medicamentosa” em clientes de alta complexidade e quais malefícios essa interação oferece a esses pacientes?

 

Tabela 1: Estratégia PICOT utilizada na temática: Prática de enfermagem baseada em evidência sobre Risco de Interação Medicamentosa Adversa em UTI – Revisão Sistematizada da Literatura.

 

Acrônimo

Descrição

Componente Prático

 P  

(POPULAÇÃO)

Pacientes de alta complexidade.

Paciente adulto e idoso internados em uma Unidade de Terapia Intensiva.

 

 I  

(INTERESSE)

Identificar /avaliar principais drogas e quais são os sinais e sintomas dessa possível risco de  intoxicação (de interação medicamentosa).

 

Apontar se o risco de interação medicamentosa causa algum malefício e quais consequências ela provoca ao paciente de alta complexidade.

Esse estudo não tem como avaliar/saber se os profissionais estão cientes dessa interação.

 C

(COMPARAÇÃO)

Controle/ Comparação/ Integração.

 

Não se aplica.

 

 O  

(DESFECHO)

Resultado de enfermagem (NOC): Risco de Interação Medicamentosa Adversa

 

Descrever/observar quais cuidados que se deve ter para que esses pacientes não tenham interação medicamentosa.

 

T

(TEMPO)

 

Tempo de 7 dias

Máximo de 7 dias de internação em Unidades de Terapia Intensiva

 

  Fonte: Cassia Amorim Rodrigues Araújo e Isabel Cruz,2020.

 

Metodologia

 

Este trabalho disserta sobre uma revisão sistematizada de literatura, realizada através de pesquisa computadorizada nos portais científicos. Na estratégia de busca, optou-se pelo uso dos três descritores principais da pesquisa por motivo de recuperação de estudos relevantes.

A pesquisa foi realizada no mês de agosto através da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Pubmed, Cinahl, BDenf, Lilacs e Medline. Os descritores foram selecionados através da base DeCS (Descritores em Ciências da Saúde): “Drug interactions”, “Intensive care units”, “Patient safety” e permutados com o auxílio do operador bolleano AND. Abordado na tabela 02 respectivamente com os dados:  autor(es), ano e País; objetivo da pesquisa; população amostra; tipo de estudo; principais recomendação(ções) e nível de Evidência. Utilizando para auxílio da pesquisa o livro de classificação internacional para a prática de enfermagem – CIPE.7  

 Realizada a busca no período de agosto, utilizados como critérios de inclusão: artigos publicados com texto completo nos idiomas português, inglês e espanhol e período de publicação de 2012 a 2019.  Artigos de exclusão foram os quais não se relacionavam com a temática ou estavam indisponíveis para leitura.

 

 

 

Resultados  

 

Ao todo foram encontrados 119 artigos, onde 88 foram excluídos por serem repetidos ou não atenderem à temática. Sendo elegíveis 31 artigos e selecionados 15 para leitura na íntegra. Escolhidos 10 artigos, analisados e sintetizados neste estudo. Segue abaixo através da tabela 2 as publicações encontradas nas bases de dados.

 

Tabela 2: Publicações localizadas nas bases de dados PubMed, LILACS, Medline, BDENF, Cinahal e BVS - Biblioteca virtual em saúde no período de 2012-2019, segundo a classificação de Oxford, 2009.

 

Autor(es), Data & País

Objetivo da pesquisa

População / Amostra

 

 

Tipo do estudo

Principal(is) recomendação (ões)

     Nível de evidência

 

 

Cortes ALB, Silvino ZR. 2019, Brasil.

Identificar os fatores associados às Interações Medicamentosas Potenciais com Medicamentos de alta vigilância em Centro de Terapia Intensiva de um Hospital Sentinela.

Prescrições de 60 prontuários de pacientes na terapia intensiva

(N=244).

 

 

Estudo transversal, retrospectivo de abordagem quantitativa.

 

 

Fortalecer estratégias para reduzir os eventos adversos relacionados a medicamentos. É indispensável que se trabalhe com estratégias para melhor manejar o sistema de medicação.

2A.

Silva UDA Soeiro CLS, Resque RL, Gomes MRF, Costa ÉRG, Fujishima MAT. 2018, Brasil.

Avaliar as principais interações medicamentosas observadas nas UTI de um hospital privado na cidade de Macapá (Amapá,AP) através da análise das prescrições e das consequentes intervenções adotadas a fim de minimizar seus riscos.

Prescrições de pacientes internados em UTI quanto à presença de potenciais interações medicamentosas e sua respectiva classificação segundo seu risco e mecanismo.

 

 

Estudo retrospectivo.

Procurar garantir maior monitoramento das potenciais interações medicamentosas em pacientes críticos para diminuir os riscos e garantir a segurança do paciente.

B1.

Vieira LB, Reis AMM, Carvalho REFL, Faria LMP, Caassiani SHB. 2012, Brasil.

O objetivo do estudo é determinar a frequência de interações fármaco-fármaco em prescrições de pacientes internados  em unidades de terapia intensiva e analisar os fatores associados relativos a farmacoterapia e ao paciente.

Pacientes internados em unidades de terapia intensiva.

Estudo descritivo transversal.

Conhecer o mecanismo farmacológico e fatores de risco para interações medicamentosas potenciais para aumentar a segurança e efetividade do tratamento.

B3.

Rodrigues AT, Stahlschmidt R, Granja S, Pilger D, Falcão ALE, Mazzola PG. 2017, Brasil.

Delinear a prevalência e o risco de possíveis interações medicamentosas entre medicamentos administrados a pacientes em uma UTI.

Pacientes internados em UTI adulto de um hospital de ensino.

Estudo observacional transversal.

Reconhecer do alto potencial de interações medicamentosas da UTI para melhora da segurança do paciente e melhores resultados na terapia.

B2.

Rajkomar A, Blandford A. 2012, London, UK.

To understand how healthcare technologies are used in practice and evaluate them, researchers have

argued for adopting the theoretical framework of Distributed Cognition (DC).

 

The results of a study in which a DC methodology, Distributed Cognition for Teamwork (DiCoT),

was applied to study the use of infusion pumps by nurses in an Intensive Care Unit (ICU).

 

Exploratory methodology.

The findings show that there is significant distribution of cognition in the ICU: socially, among

nurses; physically, through the material environment; and through technological artefacts.

 

A1.

Grissinger M, 2016, Pennsylvania,EUA.

Analysts searched the Pennsylvania Patient Safety Reporting System database for reports submitted as “Medication error/Monitoring error/Drug-drug interaction” that occurred from April 2009 through March 2016.

Analysts queried the PA-PSRS database for reports submitted as “Medication Error/ Monitoring error/Drug-drug interaction” that occurred from April 2009 through March 2016. This query yielded 870 event reports.

In an observational study of 13 intensive care units (ICUs).

Healthcare facilities can help reduce the opportunity for drug interactions reaching patients by addressing all areas of the medication-use process and not relying solely on the effectiveness of alerts wen orders are entered into electronic health records.

A1.

Rehr CA, Wong A, Seger DL, Bates DW, 2018,

Boston, EUA.

Understand provider behavior around the use of the override reason “Inaccurate warning,” specifically whether it is an effective way of identifying unhelpful medication alerts.

Analyzed alert overrides that occurred in the intensive care units (ICUs) of a major academic medical center between June and November 2016, focused on the following high-significance alert types: dose, drug-allergy alerts, and drug–drug interactions (DDI). Override appropriateness was analyzed by

two independent reviewers using predetermined criteria.

 

Content analysis.

The “Inaccurate warning” reason was selectively used by a small proportion of providers and overrides using this reason identified important opportunities to reduce excess alerts. Potential opportunities include improved evaluation of dosing mechanisms based on patient characteristics, inclusion of institutional dosing protocols to alert logic, and evaluation of a patient’s prior tolerance to a medication that they have a documented allergy for.

A2.

Caribé RA, Chaves GR, Pocognoni JD, Souza IA, 2013, Argentina.

Analizar, detectar y clasificar las potenciales interacciones medicamentosas (IMs) en pacientes con cuadro de sepsis internados en la Unidad de Terapia Intensiva.

Pacientes con cuadro de sepsis internados en la Unidad de Terapia Intensiva.

Estudio fue una cohorte prospectiva y observacional en pacientes sépticos.

Las interacciones medicamentosas representan una importante preocupación clínica en pacientes sépticos internados en unidades de terapia intensiva.

B1.

Ferreira Neto CJB, Plodek CK, Soares FK, Andrade RA, Teleginski F, Rocha MD. 2016,  

Brasil.

Analisar o impacto de diretrizes sobre erros em medicamentos prescritos para administração via sondas enterais.

Pacientes de clínica médica, neurologia e unidade de terapia intensiva.

Estudo quantitativo, em hospital geral universitário.

 

Diretrizes e intervenções farmacêuticas foram determinantes na prevenção dos erros de

medicamentos via sondas enterais.

 

A1.

Moreira MB, Mesquita MGR, Stipp MAC, Paes GO. 2017,

Brasil.

 

Analisar possíveis interações medicamentosas intravenosas e seu nível de gravidade

associados à administração desses medicamentos com base nas prescrições de um

Unidade de Tratamento Intensivo.

 

Pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva.

Estudo quantitativo, com desenho exploratório retrospectivo.

Mapear prescrições permite a caracterização da

terapia medicamentosa, contribuindo para prevenir possíveis interações medicamentosas e suas

consequências.

 

A2.

Fonte: Oxford Centre for Evidence. 2009

Discussão

Prevalência de Risco de interações medicamentosas associadas ao número de medicamentos prescritos

Os riscos de interações medicamentosas em unidades de terapia intensiva são características que inicialmente podem passar despercebidas se o enfermeiro de unidade intensiva e sua equipe não apresentarem um olhar atento e treinado as múltiplas medicações que variam: parenteral, enteral, insulinoterapia e outros.

A administração de muitos fármacos pode trazer prejuízos senão analisados com antecedência, visto que, na unidade de terapia intensiva há maior incidência dessa interação ocorrer em pacientes do sexo masculino, que foram internados com comorbidades pré-existentes e possuem idade maior que 58 anos2,6.

Conforme o tempo de permanência amplifica, o número de fármacos prescritos eleva-se proporcionalmente. A rapidez na qual ocorrem as interações dos fármacos apresentavam (53,3%) por dia. A ação entre elas foi predominantemente farmacodinâmica (62,2%), ou seja, são modificações nos efeitos dos fármacos, sem alterar sua concentração. Sendo capaz de causar toxicidade, antagonismo ou sinergismo. Há elevação em pacientes idosos devido às alterações hepáticas e renais que diminuem o metabolismo com o tempo. Estes resultados estão de acordo com outros estudos. 8

O fator de risco ao evento adverso também pode ser devido ao número de diagnósticos que o paciente possui. A polifarmácia que é descrita como a utilização de 5 ou mais fármacos, também é um facilitador para riscos e interações. Um dos maiores receios acerca da temática aborda sobre este paciente não manifestar efeitos colaterais até o momento da alta hospitalar. O risco de interação mais grave observada nos estudos relata o uso de midazolam com fentanil, pois traz uma potencialização classificada como “Drug Reax”, muito empregado em pacientes que necessitam de ventilação mecânica. Pesquisas recentes informam que o uso concomitante dos dois fármacos detecta uma sedação prolongada que afeta a eliminação do midazolam10. Ou seja, são fármacos que precisam de monitoramento contínuo para que não haja toxicidade e depressão respiratória.

Outro cuidado que devemos possuir se deve ao uso de repositores de eletrólitos e fármacos para alívio da dor. A administração para alívio da dor associados a inibidores seletivos da recaptação de serotonina como a metoclopramida e fluconazol aumenta o risco de convulsões como efeito adverso. Já a utilização do fluconazol com o fentanil prolonga o efeito sedativo do fármaco aumentando o risco de hipersedação. Assim como o uso de ranitidina com fentanil também pode ocasionar depressão respiratória10.

As comorbidades com risco mais relatadas nos estudos foram: doença pulmonar obstrutiva crônica, hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus. Os riscos as interações igualmente identificadas nos estudos destinaram-se ao tramadol e ondansetrona, midazolam e omeprazol, insulina regular e hidrocortisona. A amiodarona possui interação com 197 fármacos conhecidos, seu efeito em uso associado se dá em aumentar o prolongamento do intervalo QT3.

A furosemida administrada com a insulina pode ocasionar aumento da glicemia sanguínea, necessitando reajustar a dose de insulina. Levando em conta a alimentação do paciente, sendo necessário ser acompanhado diariamente pela equipe de enfermagem. A união do ácido acetilsalicílico, clopidogrel e enoxaparina é muito utilizada em pacientes cardiopatas que necessitam de profilaxia para trombose arterial, entretanto, o uso destes três fármacos em conjunto pode ocasionar sangramentos e hemorragias graves e somente devem ser utilizados quando os benefícios se sobrepõem aos riscos. Utilizando exames de coagulograma constantemente10.

Inclusive o uso de cloreto de potássio juntamente com a espironolactona um antagonista específico da aldosterona, atua competindo nos receptores de troca de sódio e potássio aldosterona-dependentes, por ser um diurético poupador de potássio, quando se une com o cloreto de potássio traz consequências como a hipercalemia que traz transtornos metabólicos no sistema muscular e músculo cardíaco podendo causar arritmias, seu uso indiscriminado pode levar a morte10.

 

 

A importância da equipe multidisciplinar para a segurança do paciente

A equipe multidisciplinar precisa trabalhar em conjunto, em busca da segurança do paciente para que o paciente não seja passível de riscos e eventos adversos não ocorram e prejudiquem este paciente que já se encontra fragilizado devido a permanecer no centro de terapia intensiva. Sendo assim, a equipe de enfermagem deve estar informada acerca dos medicamentos administrados para o reajuste de horários de administração de medicamentos. O reaprazamento também é uma medida protetiva para que não ocorra interações medicamentosas, onde os medicamentos que possa ter a possibilidade de interagir sejam aprazados em horários diferentes10.

A utilização do mnemônico “FAST HUG” ou “abraço rápido” também é considerada uma medida protetora para visualizar os cuidados do paciente crítico sendo muito utilizado no Brasil. Significa: F (feeding ou alimentação) - O paciente pode ser nutrido oralmente? Se negativo, pode ser alimentado por via enteral ou parenteral?; A(analgesia) - O paciente não pode sofrer dor, contudo a analgesia não deve ser excessiva; S(sedação) - O paciente não deve sentir desconfortável, mas a sedação excessiva deve ser evitada; T(thromboembolic prophylaxis ou profilaxia de trombose venosa profunda) - A TVP está relacionada à alta morbimortalidade, sendo assim todos os pacientes devem ser avaliados quanto ao risco-benefício da terapia; H(head of the bed elevated ou elevação da cabeceira) - Elevar a cabeceira em 30° a 40°graus reduz a probabilidade de refluxo gastro esofágico em pacientes com ventilação mecânica, podendo ser contraindicada em pacientes com ameaça de má perfusão cerebral; U(stress ulcer prophylaxis) - Prevenção de úlceras por estresse e G(glucose control ou controle glicêmico) - Sempre manter a glicemia dentro dos padrões de normalidade10,11 . O risco de interações medicamentosas deve ser monitorado continuamente, avaliando risco-benefício entre a suspensão ou manutenção com monitoramento contínuo10.

Destaca-se o uso do software Micromedex, onde potenciais interações medicamentosas são descritas em um banco de dados para auxiliar a equipe multidisciplinar. O sistema classifica o medicamento da seguinte forma: contraindicado (medicamentos contraindicados para uso simultâneo), pois a interação pode trazer riscos graves; moderada (a interação pode causar exacerbação e requerer uma terapia alternativa) ou menor (a interação causa efeitos clínicos mínimos que não há geralmente a exigência de mudança na terapia) 11.

A cognição distribuída avalia a interação entre os membros do grupo social, entre estrutura interna e externa. A distribuição de afazeres possibilita que a equipe diminua sua carga de informações e trabalhe melhor. Diminuindo assim, as interrupções no contexto do trabalho. Por exemplo: uma enfermeira pode ser interrompida por outra pessoa da equipe para sanar dúvidas e pedir ajuda, atrapalhando o processo de sua função exercida no momento e retirando sua atenção. Neste sentido, observa-se que a enfermeira lida com inúmeras interrupções e precisa discernir que existem momentos nos quais pode ocorrer uma pausa e em outros não12.

A utilização de fluxogramas para a utilização de medicamentos via sonda enteral é mais um dos facilitadores para a segurança do paciente, visto que pode ser mais bem visualizado e fixado no posto de enfermagem, caso haja dúvidas. Neste estudo demonstra a importância da elaboração e revisão de processos, do protocolo e das intervenções farmacêuticas. A instituição desenvolvendo medidas de segurança contribuem para a efetividade na utilização dos medicamentos em vias sondas enterais.  A maior dificuldade para o desenvolvimento das atividades críticas voltada para o paciente com risco de interações medicamentosas é manter o monitoramento acerca do reaprazamento e a utilização de fluxogramas quanto a possibilidade de se evitar as interações medicamentosas.13 Mediante o exposto observa-se que este controle é primordial para impedir eventos adversos em até 7 dias.

 

 

Conclusão

 

Destaca-se no paciente de alta complexidade a identificação de significativo número de medicações, qualificando-o como polifarmácia, ou seja, o paciente faz uso de mais de 5 medicações trazendo consequências como risco de interações medicamentosas, e este número se eleva quando se trata do adulto/idoso pelas comorbidades em sua terapêutica já existentes e ao número de dias de internação.

As atuais evidências abordam que a comunicação entre a equipe multidisciplinar, aliado a instalação de protocolos, fluxogramas e o uso de softwares podem ser componentes facilitadores para a segurança do paciente evitando eventos adversos. A monitorização constante da equipe ainda assim, é o fator mais importante para equipe multidisciplinar e principalmente para o enfermeiro intensivista, visto que todos os profissionais são barreiras de proteção para o paciente e o enfermeiro intensivista aliado à sua equipe de enfermagem são bloqueios no último processo de administração de medicação e colaboram no processo de segurança.

 

Referências

 

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2. Moreira MB, Mesquita MGR, Stipp MAC, Paes GO. Potenciais interações de medicamentos intravenosos em terapia intensiva. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2017 [cited 2020 ago 29]; 51(e03233):1-8.  Available from: https://www.revistas.usp.br/reeusp/article/view/134927   doi: http://dx.doi.org/10.1590/S1980-220X2017000003220

 

3. Cortes ALB, Silvino ZR. Fatores associados a interações medicamentosas potenciais em um Centro de Terapia Intensiva: estudo transversal. Esc Anna Nery [Internet]. 2019 [cited 2020 ago 29];23(3):1-9. Available from: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-81452019000300204&script=sci_arttext&tlng=pt   doi :http://dx.doi.org/10.1590/2177-9465-ean-2018-0326 4. Hisham M, Sivakumar MN, Veerasekar G. Impact of clinical pharmacist in an Indian Intensive Care Unit. Indian J Crit Care Med [Internet]. 2016 [cited 2020 ago 29];20(2): 24-29. Available from: https://www.ijccm.org/doi/pdf/10.4103/0972-5229.175931

 

5. Rehr CA, Wong A, Seger DL, Bates DW. Determining inappropriate medication alerts from “inaccurate warning” overrides in the intensive care unit. Applied Clin inform [Internet]. 2018[cited 2020 ago 29];  9(2): 268-27. Available from: https://sci-hub.tw/10.1055/s-0038-1642608

 

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10. Silva UDA, Soeiro CLS, Resque RL, Gomes MRF, Costa ÉRG, Fujishima MAT. Interações medicamentosas e consequentes intervenções farmacêuticas na Unidade de Terapia Intensiva de um hospital privado em Macapá, Amapá. Rev Soc Cienc Tecnol [Internet]. 2018 [cited 2020 ago 29];6(2):29-37. Available from: https://sci-hub.tw/https://doi.org/10.22239/2317-269x.00922

 

11. Rodrigues AT, Stahlschmidt R, Granja S, Pilger D, Falcão ALE, Mazzola PG. Prevalência de potenciais interações medicamentosas na unidade de terapia intensiva de um hospital de ensino brasileiro. Rev Bras Ciênc Farma [Internet]. 2017 [ cited 2020 ago 29];53(1): 1-8. Available from: https://www.scielo.br/pdf/bjps/v53n1/2175-9790-bjps-53-01-e16109.pdf    doi: http://dx.doi.org/10.1590/s2175-97902017000116109

 

12. Rajkomar A, Blandford A. Understanding infusion administration in the ICU through distributed cognition. J Biomed Informa [Internet]. 2012 [cited 2020 ago 29]; 45(3):580-590. Available from: https://sci-hub.tw/https://doi.org/10.1016/j.jbi.2012.02.003

 

13. Ferreira Neto CJB, Plodek CK, Soares FK, Andrade RA, Teleginski F, Rocha MD. Intervenções farmacêuticas em medicamentos prescritos para administração via sondas enterais em hospital universitário. Rev Latino-Americana Enferm [Internet]. 2016 [cited 2020 ago 29];24:1-9. Available from: https://www.scielo.br/pdf/rlae/v24/pt_0104-1169-rlae-24-02696.pdf doi:10.1590/1518-8345.0619.2696

 

 

 

 

 

 

 





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