JSNCARE

The client with sickle cell disease in pain crise at the Emergency Department: evidenced based nursing practice 

Cuidados de enfermagem ao cliente com anemia falciforme com crise álgica: prática de enfermagem baseada em evidência

 

Odilon Adolfo Branco de Souza. Enfermeiro. Aluno do curso de Especialização Emergência/ Universidade Federal Fluminense (UFF). brancoenf@ig.com.br

 

Isabel Cristina Fonseca da Cruz. Doutora em Enfermagem/Titular da UFF. isabelcruz@uol.com.br

 

 

Abstract: The objective of this article was to display the current questions concerning the attendance to the client with sickle cell with pain, carrying through a bibliographical revision of the research of nursing of last the 5 years, in the databases of the Scielo, the Capes and the Medline. One displays with 10 research chosen for analysis with its authors, objectives, sample sizes, type of studies, main found and its conclusions. The results show the lack of consensus concerning the study of pain in sickle cell. It is verified that has one urgent necessity of application of a scale of pain, adjusted for the client with sickle cell in emergency.

Key-words: pain, emergency, anemia, nursing care.

 

Resumo: O objetivo deste artigo foi expor as questões atuais acerca do atendimento ao cliente com anemia falciforme em crise álgica, realizando uma revisão bibliográfica das pesquisas de enfermagem dos últimos 5 anos , nas bases da Scielo, da Capes e do Medline. Uma tabela expõe as 10 pesquisas escolhidas para análise com seus autores, objetivos, tamanhos de amostras, tipo de estudos, principais achados e suas conclusões. Os resultados mostram a falta de consenso acerca do estudo da dor nos falcêmicos. Verifica-se que há uma urgente necessidade de aplicação de uma escala de dor, adequada para o cliente falcêmico em emergência.

Palavras-chave: dor, emergência, anemia, cuidados de enfermagem.

 

Resúmen: El objetivo de este artículo fue exhibir los factos actuales referentes a la atención al cliente con anemia falciforme en la crisis de dolor, con una revisión bibliográfica de la investigación del enfermería del último los 5 años, en las bases del Scielo, Capes y del Medline. Uno tasa exhibiciones la investigación 10 elegida para el análisis con sus autores, los objetivos, los tamaños de muestra, el tipo de estudios, la cañería encontrada y sus conclusiones. Los resultados demuestran la carencia del consenso referente al estudio del dolor en los falcêmicos. Se verifica que tiene una necesidad urgente del uso de una escala del dolor, ajustada para el cliente falcêmico en emergencia.

Palabras-clave: dolor, emergência, anemia, cuidados del enfermería.

 

Introdução:

A anemia falciforme é caracterizada por uma notável variabilidade entre os indivíduos afetados. Fatores que modificam a concentração intra-eritrocitária da hemogoblina S podem influenciar a expressão clínica da doença assim como a quantidade e composição da hemoglobina. Estudos antropológicos associados às análises biomoleculares sugerem que o alelo anormal, para a síntese da globina S, tenha surgido entre os períodos Paleolítico e Mesolítico, aproximadamente há 50 ou 100 mil anos na região centro-oeste da África, Índia e leste da Ásia1.

Cerca de 10% da população mundial é portadora assintomática de um tipo importante de anemia hereditária: a doença falciforme. Esta apresenta distribuição geográfica bastante diversificada na África, Ásia, Europa e América, apesar de originalmente estar confinada nas regiões tropicais e subtropicais1.

Estima-se que entre 20 a 30 mil brasileiros estejam portando essa doença 1. Algumas pessoas desenvolvem toda uma sintomatologia característica, porém dentre os diversos sintomas, sabe-se que a dor é uma constante que acompanha o cliente na fase aguda da anemia falciforme devido a vaso-oclusão, principalmente de vasos sangüíneos periféricos.

A dor que acomete a um cliente falcêmico em sua crise, varia de leve a intensa. O tórax, as articulações, a região dorsal e o abdome, são os locais mais comprometidos. Em sua maioria, são os clientes jovens  que passam por estas crises, uma vez que a expectativa de vida de um cliente falcêmico fica em torno de 40 a 50 anos1.

De acordo com a Associação Internacional para Estudos da Dor, podemos definir a dor como uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada à lesão real ou potencial dos tecidos, ou descrita em termos de tais danos, sendo que cada indivíduo aprende a utilizar este termo através de suas experiências anteriores2.

O  conhecimento, acerca dos cuidados de enfermagem ao cliente com algia na fase aguda da anemia falciforme, se faz relevante para minimizar o sofrimento em que esse cliente se encontra, e também, agilizar o atendimento ao mesmo por se tratar de uma questão de emergência. No atendimento ao cliente anemia falciforme, a enfermagem baseada em evidências é um caminho para iniciar os cuidados de forma  prioritária, objetiva e que atenda as expectativas de melhoria desse cliente.

            Diante do exposto, o objetivo deste artigo é mostrar as questões atuais acerca do atendimento ao cliente com anemia falciforme em crise álgica, realizando uma revisão bibliográfica das pesquisas de enfermagem dos últimos 5 anos.

Desenvolvimento:

Metodologia – Pesquisa bibliográfica. Para o desenvolvimento desta pesquisa, foi feita uma busca pelos artigos científicos publicados acerca do tema: cuidados de enfermagem ao cliente com anemia falciforme com crise álgica -  enfermagem baseada em evidências, via internet, nas bases de dados da Scielo, da Capes e do Medline.

            A pesquisa limitou-se à busca de artigos em revista de enfermagem, indexadas e datadas dos últimos 5 anos (de 2002 até 2007). As palavras-chave: dor, emergência, anemia e cuidados de enfermagem, serviram para as buscas, que foram entre os meses de maio a agosto de 2007.

            Após uma primeira leitura dos artigos em geral, foram escolhidos 10, sendo 4 em inglês e 6 em português, para serem analisados nos resultados, por trazerem informações atuais e relevantes acerca do cuidado de enfermagem ao cliente com anemia falciforme com dor. Estes foram postos em tabela, para uma melhor compreensão pelo leitor. 

 

Resultados e Discussão

           

 

            A tabela abaixo expõe as 10 pesquisas escolhidas para análise com seus autores, objetivos, tamanhos de amostras, tipo de estudos, principais achados e suas conclusões.

 

 

Tabela 1 - Publicações localizadas de acordo com a temática mencionadas nas bases de dados da Scielo, Capes, e Medline. Niterói, 2007.

Autores, data e país

Objetivo da pesquisa

Tamanho  da amostra

Tipo de estudo e instrumentos

Principais achados

Conclusões dos autores

Brockopp D3

2004

EUA

Identificar fatores que influenciam na diminuição da dor.

 

5 enfermeiras “práticas”; 2 enfermeiras-professoras e 1 enfermeira administrativa

 

Estudo quase-experimental

As enfermeiras despenderam mais tempo em outros cuidados do que para a identificação de fatores para a diminuição da dor nos pacientes. O conhecimento básico da dor não foi citado pela maioria.

Enfermeiras poderiam despender mais seu tempo realizando ações para a diminuição da dor.

Fry M, Ryan J, Alexander N4

2004

EUA

Descrever estratégias inovadoras para o controle da dor

4 drogas

 

Estudo prospectivo exploratório

Houve uma significativa melhora da dor após a ingesta  de 1 das 4 drogas.

A redução da dor, tendo como instrumento o “post pain score” foi relevante.

Nairn S5 l  2004

EUA

Análise da literatura sobre a percepção do paciente no setor de emergência

37 referências

Revisão de literatura

O nível de satisfação do paciente sobre o atendimento no setor de emergência é satisfatório. 

Deve-se fazer pesquisas fututras sobre a qualidade no atendimento em emergência.

Ivo ML, Carvalho EC6

  2003

Brasil

Aplicar os conceitos do modelo de Adaptação de Roy para identificar os comportamentos

de pacientes portadores de anemia falciforme.

9 pacientes

 

Questionário semi-estruturado.

Evidenciou-se, no modo fisiológico, o comportamento inefetivo de

baixa oxigenação e suas conseqüências para a dor.

Verificou-se que a função fisiológica afetada altera os outros modos adaptativos.

 

Budó, MLD7

Brasil

2007

Descrever a percepção

e os significados da dor em adultos

usuários do SUS.

 

60 (sessenta) pacientes

 

Estudo exploratório

descritivo.

 

Evidenciou-

se que “o significado da

dor” revelou o predomínio do entendimento

da dor como uma

questão física;

emocional e sentimental.

Existem diferenças nas reações

frente à dor entre homens e mulheres.

 

Sanches LM, Boemer MR8  2002

Brasil

Analisar a percepção da dor pela pessoa.

16 pessoas do centro de oncologia.

Estudo de natureza fenomenológica

 

As emoções frequentemente interligadas à dor

são a ansiedade e o medo, que  referem-se ,

às situações agudas.

 

A concepção biologista na prática da saúde ainda

hoje,  tem seu caráter predominante. Infelizmente, tal

concepção impossibilita o doente de revelar-se como

ser-no-mundo.

Calil AM, Pimenta  CAM 9

2005

Brasil

Avaliou-se a intensidade da dor e a adequação

da analgesia no setor de emergência

 

100 vítimas de acidentes

 

observação

participante

6,0% permaneceram com dor intensa e 38,0% com

dor moderada. Uma significativa parte da população do estudo permaneceu sem analgesia durante o período

de observação.

 

Números expressivos de inadequação analgésica foram encontrados demonstrando a reduzida

importância conferida a analgesia no trauma em nosso meio.

 

Lima M, Araújo R, Trigueiro E, Nóbrega M, Garcia T 10 2007

Brasil

O objetivo geral foi o de contribuir para a construção de um banco de dados essenciais de enfermagem, a ser introduzido em sistemas de informação

87 termos de enfermagem

revisão da literatura para a identificação do significado dos termos

Após a análise dos termos e de suas respectivas definições, foi feita a afirmação da definição teórica

Acredita-se que a CIPE favorece o crescimento da Enfermagem, pois sistematiza os termos de sua linguagem especial, possibilitando a utilização desses termos na tomada de decisões quanto às necessidades do cliente.

Westfold  F11

2006

EUA

O artigo ajuda a entender o processo da descrição da dor e reforça a ação de escutar o paciente sobre sua dor.

1 paciente jovem

Estudo de caso

A depressão de oxigênio causou dores em membros inferiores em um paciente falcêmico. Foi ministrado oxigênio onde houve melhora.

O artigo traz ações de enfermagem para o atendimento ao cliente em crise falcêmica com dor. 

 

Kurita GP, Pimenta CAM 12

2005

Brasil

 

Objetivou-se avaliar a adesão

dos doentes com dor crônica

não oncológica ao tratamento

e identificar relações entre a crença de controle da dor.

Trinta doentes

 

 Pesquisa qualitativa

Observaram-

se altos índices de

adesão parcial e não adesão

ao tratamento (40,0% a 56,7%),

 

Os índices de adesão parcial e não adesão ao tratamento medicamentoso foram altos, que o índice de

acerto de ingestão medicamentosa foi baixo.

Fonte: UFF – Especialização Enfermagem em emergência.

 

A avaliação da dor é subjetiva e natural e por causa da complexidade da dor, uma experiência clara não é freqüentemente avaliada. A subjetividade deste processo dificulta a avaliação feita pelos enfermeiros. A situação experienciada pelo cliente acerca da dor é complexa e necessita que o enfermeiro analise um número maior de informações organizadas para um posterior tratamento e decisões. Raramente as informações passadas pelos clientes são realmente analisadas3.

Noções estigmatizadas de comportamento, diagnósticos patológicos, personalidades, dentre outros fatos, podem impactar as decisões dos enfermeiros e mascarar um real tratamento para a dor, porém, esta pesquisa americana não mostrou a relação entre o conhecimento da dor e noções de comportamento do paciente3

Nessa pesquisa, os enfermeiros quando questionados sobre o que fazem para minimizar a dor nos clientes que chegam ao departamento de emergência, citaram que fazem o exame físico e a partir daí, obtém critérios de avaliação da dor, se é fraca ou moderada. Nas respostas, os enfermeiros relataram que os analgésicos sozinhos não diminuem a dor, ou seja, somente com os analgésicos, a dor não cessa. Outras práticas como massagem e distração emocional também surtem efeito, na concepção deles. É importante cessar a partir do estágio inicial da dor, para que este não consiga abalar o equilíbrio emocional do cliente. Há o destaque que o quantitativo de dor é afetado por fatores culturais, por experiências passadas e por questões educacionais. Quanto maior o nível de instrução, mais tolerante é a dor para aquela pessoa 3.

 Em uma observação prática em emergência, percebe-se que a idéia de dor que a equipe tem de um cliente jovem, entrando em um setor de emergência, é um tanto estigmatizada: Ou o jovem está com dor torácica por estar sofrendo um IAM por excesso de drogas, ou o jovem tem dor lombar ou nas articulações por “querer um atestado”, ou o mesmo, com dor abdominal, traz inúmeras hipóteses, menos a relacionada com a anemia falciforme. Só após uma observação detalhada, uma coleta do histórico desse cliente, é que observa-se que o mesmo está sofrendo dores intensas pelas complicações da anemia falciforme.

Outra pesquisa aponta que há estratégias inovadoras para o alívio da dor como a contagem de tempo de efeito de analgésicos para dores moderadas. Partindo de um estudo exploratório-prospectivo de 12 semanas, foram pesquisados os efeitos de 4 drogas, uma delas é a panadeína, não comercializada no Brasil, mas similar à codeína. Eles tentaram estipular, para quais tipos de dores esta droga pode ser utilizada. Os resultados dessa pesquisa mostraram que a utilização da panadeína diminui dois pontos no “average pain score”, um tipo de escala para a dor, o que demonstra a eficácia clínica do uso da panadeína. Comprovou-se estatisticamente uma diminuição da dor leve a moderada com o uso dessa droga, estabelecendo um maior conforto para o cliente4.

No Brasil, ainda não se chegou a um protocolo de qual tipo de droga administrar, porém os episódios dolorosos são tratados com hidratação venosa, oxigenioterapia e diversos analgésicos e opiáceos.

Uma pesquisa bibliográfica realizada para saber o nível de satisfação dos clientes atendidos num setor de emergência quanto à diminuição da dor, revelou o alto índice de aprovação (nos Estados Unidos) do atendimento. A pesquisa comparou publicações de outros países como Índia, Canadá, Austrália, Suíça e Inglaterra5.

Nos estudos, foi avaliado o tempo de diminuição da dor, onde, enquanto em outros países ficava em 44 minutos em média, nos EUA isto se resolvia em 32 minutos para os clientes após algum tipo de analgesia. Outro dado importante foi a declaração de 56 (82%) dos pacientes entre bom e excelente, com relação ao cessamento da dor após atendimento na emergência5.

A falha decorrente da pesquisa acima, foi não pesquisar artigos que citam quais tipos de analgésicos eles administram e quais as patologias que eles atenderam – não foi somente o portador da anemia falciforme. Deveria haver, no Brasil uma pesquisa que observasse em quanto tempo cessam as dores nos clientes falcêmicos após administração de certas drogas.  

Numa das categorias, em outra pesquisa, incluiu-se a dor como ponto determinante. Na amostra em pauta, 100% dos sujeitos aludiu às crises dolorosas, com início na infância, sendo esta a manifestação clínica mais comum na anemia falciforme, produzida pelo fenômeno vaso-oclusivo, ou seja, as hemácias falcizadas obstruem os vasos sangüíneos. A informação sobre como o episódio de dor se desenvolvia, revelou que para a totalidade da amostra, a crise de dor manifestava-se atacando, inicialmente, a região óssea, como articulações, o abdômen e parte inferior das costas; destacou-se que hoje, os pacientes não são mais acometidos por episódios de dor6.

 Houve destaque nessa pesquisa de que a pessoa, como sistema adaptativo, deve ser vista como um todo holístico, em seus quatro modos adaptativos: fisiológico, autoconceito ou identidade grupal, desempenho do papel e interdependência em interação contínua com um ambiente em alteração, por isso, os dois primeiros passos do Modelo de Adaptação de Roy foram utilizados. Uma foi a observação dos comportamentos inefetivos e outra foi a identificação dos respectivos estímulos que influenciaram tais comportamentos. Verificou-se que essa abordagem contribui para alicerçar futura assistência de enfermagem a pacientes portadores de anemia falciforme. Tratando-se de doença crônica, torna-se imprescindível que a clientela conheça sua doença para saber o quê e quando esperar em cada situação, colaborando dessa forma, com sua própria adaptação6.

Esta por sinal, foi a única pesquisa em enfermagem brasileira que tratou da anemia falciforme, ainda assim, estudando os aspectos subjetivos da dor, segundo ROY. Os pesquisadores foram adequados ao destacarem que, a observação dos comportamentos apresentados pelos clientes auxilia o atendimento prestado pelo enfermeiro, visando o atendimento baseado em evidências.  

Outro estudo descreveu a percepção e os significados da dor em adultos usuários do SUS. A população compreendeu 60 clientes que buscaram o serviço no período. A pesquisa foi do tipo exploratório-descritiva, cujos dados foram coletados com entrevista semi-estruturada e analisados qualitativamente, constituindo temas que emergiram, sendo agrupados por categorias. Evidenciou-se que, “o significado da dor” revelou o predomínio do entendimento da dor como uma questão física; apontou a dor relacionada também a questões emocionais e sentimentais, religiosas e humanas. “A reação de homens e mulheres frente à dor”, é percebida diferentemente conforme o sexo, diante a abordagem, “como você se sente nas situações em que tem dor?”, as respostas variaram entre afetivas, cognitivas e comportamentais7.

Através da fenomenologia houve a busca da compreensão da dor, pois esta constitui-se em uma das modalidades da pesquisa qualitativa que lida com valores, crenças e significados atribuídos pelas próprias pessoas, de acordo com pesquisa realizada em 2002, em São Paulo. Segundo este pensar, a pesquisa se norteou sob a interrogação: o que é o conviver com a dor? Como vem sendo para o (a) senhor(a) o convívio com esta dor? Conte-me sobre isto. O medo de sentir dor é responsável, na maior parte dos casos, pela conduta de fugir de atividades ou situações a ela relacionadas, o que resulta na manutenção da incapacidade. A dor se mostra como algo que afeta a dimensão existencial. Pôde-se  compreender que as mudanças ocasionadas pela dor não se ativeram aos aspectos físicos, causam também abalos na vida das pessoas8.

Descobriu-se que as emoções frequentemente interligadas à dor são a ansiedade, o medo, a depressão, a raiva e a hostilidade. As duas primeiras, referem-se principalmente às situações agudas e as demais, aos quadros crônicos. Depressão é o aspecto emocional mais freqüente e o mais estudado na dor crônica e há evidências de que se relaciona à sua intensidade8.

Observa-se que no Brasil, as pesquisas de enfermagem que tratam da dor, as fazem com bases subjetivas. Não existe até o momento nenhuma pesquisa de enfermagem que descreva a dor de modo objetivo, de modo fisiológico. Uma pesquisa experimental em que os enfermeiros se permitam atualizar no assunto. Diante disso, uma pesquisa que abrangesse dor e anemia falciforme, na enfermagem brasileira, estaria distante ainda.

É possível e necessário que os profissionais de saúde auxiliem estas pessoas nas diversas facetas de sua existência de ser pessoa com dor, dispondo-se a interagir com elas numa forma de ser com dor, em solicitude, em cuidado, ou seja, "possibilitá-la a assumir seus próprios caminhos, crescer, amadurecer, encontrar-se consigo mesmo" A compreensão do ser pessoa com dor permite ao profissional, perceber que só o ser particular decide a sua existência e pode fazê-lo assumindo-a ou negligenciando-a. O ser pessoa com dor, deve tornar-se consciente de si enquanto ser no mundo de contradições factuais que ele mesmo não escolheu. É importante que o profissional de saúde entenda que ele precisa compartilhar, ainda que por momentos, do mundo pessoal da pessoa com dor, o mundo de sua auto-realização, para só então, ter condições de compreendê-la nesse mundo. Para a concretização desse esforço, necessita ser preparado no que tange à dimensão humanista e com o olhar voltado para o ser existindo no mundo, enfocando a dor enquanto uma facticidade que não diminui a integridade do ser humano, que continua a ter o direito de viver com dignidade8.

Dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada a uma lesão tissular real ou potencial e descrita em termos de tal dano. A dor aguda é um alerta de que algo no organismo não está bem e está relacionada a afecções traumáticas, queimaduras, infecções e processos inflamatórios, entre outras. No contexto do atendimento de urgência, freqüentemente, os problemas somáticos são prioritários ao controle da dor aguda. É comum que a analgesia seja insuficiente na expectativa de que no período pós-operatório ela seja assegurada pelos anestesistas9.

A maioria dos autores afirma que a dor deve ser, no mínimo, aliviada no setor de emergência, pois com os recursos diagnósticos existentes atualmente, não se justificaria deixar um paciente permanecer com dor até a conclusão diagnóstica. A intensidade dolorosa é componente de grande expressão da experiência dolorosa e o mais aferido na prática clínica e de pesquisa; é indispensável para o planejamento da terapia antálgica e verificação da adequação do esquema proposto. Para aferição da intensidade dolorosa, são recomendadas escalas numéricas e de descritores verbais. As escalas numéricas são graduadas de 0 a 10, onde 0 significa ausência de dor e 10 significa a pior dor imaginável. Apesar de simples, essa escala é muito utilizada para o reajuste terapêutico9, além disso, apresenta como vantagem a facilidade do uso, necessitando apenas de um pouco de cooperação do paciente, pois é de fácil compreensão. O uso de diagramas corporais para aferição do local da dor é recomendado. O paciente aponta no seu corpo ou no diagrama a região ou regiões dolorosas. O conhecimento de todos os locais dolorosos, a análise em conformidade com a distribuição nervosa da região, a identificação de possíveis grupos musculares envolvidos, podem ajudar a compreender a etiologia e a magnitude do quadro. Os objetivos do presente estudo foram: caracterizar a intensidade dolorosa, o uso de analgesia e avaliar a adequação da analgesia no paciente traumatizado, vítima de acidente de transporte9. Visa-se a melhoria da assistência às vítimas de causas externas em relação à avaliação e ao alívio da dor no setor de emergência. Trata-se de um estudo prospectivo descritivo, realizado por meio documental (prontuário) e pesquisa de campo. A intensidade da dor foi avaliada pela Escala Numérica, em dois momentos, e a localização da dor mais intensa pelo Diagrama Corporal. A intensidade dolorosa foi categorizada em: 0 ausência de dor; 1 – 4 dor leve; 5 – 7 dor moderada e 8 – 10 dor intensa9. O período de uma hora após a medicação foi adotado como padrão de segurança para o início e tempo médio de ação medicamentosa. O período de três horas foi o tempo máximo esperado para a instalação de terapêutica antiálgica e para a viabilidade do estudo. As intervenções medicamentosas analgésicas, foram investigadas no prontuário do paciente e todas puderam ser resgatadas, por meio da observação da checagem em prontuário da administração e controle pela farmácia da liberação de medicamentos, com especial cuidado para opióides e outros psicotrópicos. Os pacientes referiram melhora da intensidade dolorosa entre os dois momentos. Do primeiro para o segundo momento, a dor leve variou de 5,0% para 19,0%; a moderada de 29,0% para 38,0% e a intensa decaiu de 56,0% para 26,0%. Diferenças significativas foram observadas entre os grupos que receberam e aqueles que não receberam analgesia em relação ao Índice de Manejo da Dor, como esperado. Cabe reforçar que IMD negativo significa dor mais intensa que a potência do analgésico proposto9.

Estudiosos em analgesia são enfáticos ao afirmar que, a oligoanalgesia e o subtratamento da dor levam a situações de inadequação analgésica frente à dor referida pelo paciente e que serão necessárias mudanças radicais de atitude em relação à utilização de analgésicos opióides pelas equipes de saúde9. Em relação à dor aguda, confirmou-se ser a mesma um fenômeno comum no setor de emergência em vítimas de acidentes de transporte para 90,0% dos casos. Quanto à intensidade dolorosa, notou-se que 56,0% tinham dor intensa e 29,0% dor moderada na primeira avaliação e que após o período de observação proposto, 38,0% dos pacientes  permaneciam com dor moderada e 26,0% com dor intensa. Quanto ao uso de analgesia, verificou-se que grande  parte dos pacientes permaneceram sem analgesia por um período mínimo de 3 horas e que o uso de opióides ainda é restrito em nosso meio, mesmo na vigência de dores de intensidade moderada e intensa9.

            Vê-se que há uma necessidade de aplicação de uma escala de dor adequada para o cliente falcêmico, porém, a escala numérica, de diagrama corporal é uma das que podem adaptar-se melhor para uma precisa avaliação do profissional de enfermagem.

 Para uma boa prática de enfermagem se faz necessário uma padronização de nossos termos, o que se detecta em uma pesquisa de 2007 onde, há a citação de que:

 

(...) a ausência de uma linguagem universal que estabeleça a definição e a descrição da prática profissional tem levado ao comprometimento do desenvolvimento da Enfermagem como ciência.  A falta dessa linguagem universal não é um fato comprovado, recentemente na profissão.  Questões sobre o conhecimento específico da Enfermagem, os seus conceitos, os seus significados, e, principalmente, a utilização desses conceitos na prática, são fáceis de identificar na literatura de enfermagem10.  A construção da CIPE teve início em 1991, mas a sua primeira versão só foi apresentada à comunidade de enfermagem em dezembro de 1996, denominada de Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem – CIPE. Estas classificações são importantes para o desenvolvimento da Enfermagem, pois são ferramentas para comparar o conhecimento globalmente10. Além disso, se o vocabulário utilizado na prática se fizer de forma estruturada, padronizada e classificada, facilitará tanto o entendimento por parte dos profissionais, quanto o monitoramento da qualidade do cuidado de Enfermagem prestado aos pacientes, podendo ainda, ajudar na produção de estudos e pesquisas científicas. Este estudo tem como objeto o vocabulário utilizado na prática pelos diferentes componentes da equipe de enfermagem10.

 

 

Essas definições serão inseridas em um instrumento específico, contendo os termos não constantes na CIPE e classificados no eixo Foco e em suas respectivas definições10. Esse instrumento será aplicado a um grupo de enfermeiros peritos, durante a realização de nova fase da pesquisa, para verificar como se comportam em relação à definição teórica atribuída aos termos (concordância ou discordância); e para confirmar a utilização efetiva desses termos na prática profissional10 Os resultados deste estudo estarão contribuindo para a construção de um banco de dados essenciais de enfermagem, que  integre o conhecimento científico e prático da profissão e, ao mesmo tempo, seja sensível a nossa realidade, de modo a favorecer a utilização de uma linguagem profissional comum. Como conseqüência, poderá ocorrer o aumento de visibilidade e de reconhecimento profissional, além de uma possibilidade concreta de avaliação da prática profissional10

 Em nenhum momento houve referência aos clientes portadores de anemia, principalmente os falcêmicos. A CIPE, para ser aplicada, ainda precisa de bastante desenvolvimento, principalmente de uma pesquisa para implantação de termos referentes à anemia falciforme.

Um estudo de caso estrangeiro ressaltou a importância de escutar o paciente quanto às suas queixas de dor. Para o cliente falcêmico, uma simples caminhada, pode causar uma privação de oxigênio iniciando as dores, como no caso da jovem pesquisada que, após um tempo de caminhada, desenvolveu dores em seus membros inferiores, a tal ponto que houve necessidade de atendimento emergencial. O protocolo descrito nessa pesquisa foi a oxigenioterapia, acompanhado de hidratação venosa com soro fisiológico e analgesia adequada11.  Um protocolo brasileiro de enfermagem para o atendimento ao cliente falcêmico em emergência, precisa ser estabelecido.

Em pesquisa nacional de 2005 que objetivou analisar o que os clientes fazem para aliviar a dor, descobriu-se que os doentes preferiram utilizar estratégias como desviar a atenção e rezar para lidar com a dor. Esta pesquisa permitiu concluir que os índices de adesão parcial e não adesão ao tratamento medicamentoso foram altos, que o índice de acerto de ingestão medicamentosa foi baixo, cujos valores não oscilaram ao longo de seis meses. Os doentes crêem que o cuidado à saúde depende mais de outros do que de si próprio12.

             

Conclusão:

           

            Com o desenvolver dessa pesquisa, alcançou-se aos objetivos estabelecidos pelo programa, na qual foi realizado uma revisão da bibliografia relacionado ao tema proposto, dificuldades foram encontradas e vencidas, pois a busca de referências sobre o tema não foi de fácil acesso, pois ainda faltam trabalhos e pesquisas que abordem a essa discussão sobre a crise álgica na anemia falciforme, diante disso,  conclui-se que a dor no cliente falcêmico ainda tem seus estigmas, que as pesquisas sobre a dor no Brasil são somente de aspecto subjetivo, que há ausência de um protocolo patenteado para aplicação no atendimento de enfermagem ao cliente falcêmico com crise álgica. Os analgésicos, também não são especificados nas pesquisas – fora a panadeína, que não tem comercialização no Brasil.

Verifica-se que tem a urgente necessidade de aplicação de uma escala de dor adequada para o cliente falcêmico, porém a escala numérica de diagrama corporal, é uma das que podem adaptar-se melhor para uma precisa avaliação do profissional de enfermagem. Para que essa escala seja bem aplicada à prática de enfermagem, há a necessidade de uma padronização de nossas ações, daí a CIPE, porém o desenvolvimento dessa idéia de uniformizar os termos não passou ainda pela anemia falciforme.

Portanto, um protocolo de enfermagem que unisse o subjetivo da dor – o qual no Brasil tem muitas pesquisas; com o lado objetivo da dor, poderia ser ideal para o atendimento ao cliente falcêmico em emergência, mas para isso, é necessário o desenvolvimento de mais pesquisas de enfermagem brasileira, sobre a anemia falciforme no seu aspecto emergencial. 

           

Referências Bibliográficas

 

1 Torres FR . Hemoglobinas humanas – hipótese malária ou efeito materno? Rev Bras Hematol Hemoter  2005; 27(1):53-60.  

2  Azambuja NAVC, Silva MARA, Reveilleau  AC. Dor crônica. Acta Méd  2003 :343-60. 

3  Brockopp D.  Nurses’ clinical decision-making regarding the management of painq.  Accid  Emerg Nurs 2004 12: 224–29  

4 Fry M, Ryan J, Alexander N. A prospective study of nurse initiated panadeine forte: expanding pain management in the ED.  Accid  Emerg Nurs 2004; 12(3): 136-40  

5 Nairn S . The patient experience in emergency.  Accid  Emerg Nurs 2004; 12(3): 159–65  

6 Ivo ML, Carvalho EC.  Assistência de enfermagem a portadores de anemia falciforme, à luz do referencial de Roy. Rev Latinoam Enferm 2003 mar/abr; 11(2):192-8. 

7 Budó MLD.  A Cultura permeando os sentimentos e as reações frente à dor.  Rev Esc Enferm USP 2007; 41(1):36-43.  

8 Sanches LM, Boemer MR. O convívio com a dor: um enfoque existencial. Rev Esc Enferm USP 2002; 36(4): 386-93 

9 Calil AM, Pimenta CAM. Intensidade da dor e adequação de analgesia. Rev Latinoam Enferm 2005 set/out; 13(5):692-9. 

10 Lima M, Araújo R, Trigueiro E, Nóbrega M, Garcia T. Theoretical definitions of terms attributed to nursing phenomena identified in a school hospital: a systematic review. Online Braz J Nurs [online] 2007; 6(0): Available: http://www.uff.br/objnursing/index.php/nursing/article/view/630/148 

11 Westfold F. Sickle cell disorders. Nurs Stand  2006 May/June; 20(38):67.  

12 Kurita GP, Piment CAM.  Adesão ao tratamento da dor crônica e o locus de controle da saúde. Rev Esc Enferm USP 2004; 38(3):254-61. 

 

 


 

 





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